GAYEON.

Φόβος

the personification of fear.


Phobos, filho dos deuses Ares e Afrodite e irmão gêmeo de Deimos, simboliza o medo na mitologia grega clássica. Acompanhava o pai, deus da guerra, em suas batalhas espalhando e injetando o medo no coração de seus inimigos, para que se tornassem presas fáceis para Ares e aliados.

June, MMXIX.

Com as paredes preenchidas por seus quadros emoldurados, a galeria de arte havia se tornado o lugar favorito de Gayeon. Suas pinturas eram de uma temática caótica e perturbadora, assustadoras aos olhos humanos, mas era exatamente por isso que se tornavam tão cativantes ao público. Se era medo que as obras provocavam, então aparentemente a mulher não era a única que se interessava por aquele sentimento de pavor.
Os mortais eram sem dúvida criaturas curiosas para a deusa, que se alimentava das reações e comentários amedrontados de cada um que parava em frente a um quadro que ela havia pintado.

— Isso é tão diferente, não acha? — uma voz masculina soou ao lado da artista, chamando sua atenção. Ela se virou na direção de um rapaz que observava uma das obras expostas, parecendo vidrado pelas linhas e cores da pintura, mas também aparentava estar bem interessado em puxar conversa com a bela mulher desacompanhada.

— O que é diferente? — indagou Gayeon, aproximando-se.

— Essa pintura. Eu não consigo identificar o que ela significa.

— Consegue sentir algo quando olha para ela?

— Bem… — ele virou a cabeça de um lado para o outro, suspirando e ajeitando as mãos dentro dos bolsos do casaco que trajava. — Acho que medo, desconforto, não sei bem definir.

Um sorriso ladino surgiu nos lábios femininos assim que ouviu a resposta do homem. As histórias por trás de cada arte que Gayeon pintava eram únicas, mas aquela que os dois observavam era sua preferida em particular. Saber os sentimentos que ela provocava em quem a olhava era algo satisfatório para a deusa.

— Então é exatamente isso que ela significa. — disse simples ao rapaz, esticando uma das mãos para apertar a dele em um cumprimento. Era um ato gentil que havia aprendido com os outros humanos em sua convivência com eles. — Prazer, Son Gayeon.

— Oh… — ele pareceu assimilar o nome com a pintura e sorriu largo por isso quando apertou a mão da jovem. — Então você é artista por trás dessa exposição?

— Exato.

— Então você pode me explicar a história por trás dessa obra. Não vai deixar um pobre fã assim na curiosidade. — apontou para a pintura que estavam observando enquanto sorria de forma galante. Gayeon revirou discretamente os olhos para aquilo, pigarreando para disfarçar o desgosto com a ação do homem.

— Essa pintura é inspirada em Phobos, o deus do medo e pavor. Ele pertence a mitologia grega clássica, sendo filho do deus da guerra e da deusa do amor… — os olhos amendoados seguiam cada traço da pintura, recordando-se dos detalhes que montavam aquela história. — Ele estava em cada batalha de seu pai, enchendo os inimigos de medo, fazendo todos fugirem ou serem pegos por Ares. Sempre a mesma história… Até o dia em que ele se apaixonou por um mortal. E pela primeira vez, Phobos sentiu medo. Medo da perda da pessoa que amava. Então seu pai ordenou que matassem o próprio filho, afinal, do que serviria um deus do temor que é atingido por seu próprio feitiço?

— E o mataram?

— Sim… Ninguém iria contra as ordens de Ares. — a morena riu sem humor, sem desviar o olhar que fitava a moldura na parede. As feições da menina eram mais fechadas ao chegar naquela parte da história, em uma misto de raiva e rancor.— Mas então, Phobos foi trazido de volta por sua irmã Harmonia, em outra forma, outro ano e o principal… O mais longe possível de seu pai. Ela não podia deixar Deimos, o deus do terror, sozinho por mais tempo sem o irmão gêmeo… Aposto que ele estava dando dor de cabeça para ela.

O comentário final de Gayeon era quase uma fala para si mesma, rindo sozinha com um sopro pelo nariz. Sabia que havia recebido um olhar estranho vindo do homem que prestava atenção na história que ela contava, um tanto embasbacado.

— Caramba… Como você sabe tanto desse assunto?

A mulher desmanchou o sorriso quando ouviu a pergunta. Sabia que como sempre, havia falado mais que devia e poderia levantar alguma suspeita ou curiosidade que não queria ter para si. Os olhos de Gayeon pela primeira vez miraram diretamente os dele e a reação foi quase que imediata: o homem engoliu em seco e sua respiração acelerou, assim como seus batimentos cardíacos e logo ele estava suando frio.

— Você não vai querer saber. — a voz de Gayeon em um tom mais sombrio completou as reações do rapaz, fazendo-o dar alguns passos para atrás e buscar apressado e assustado a saída daquela galeria.

A deusa do medo nunca falhava.

To be continued...

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